quinta-feira, 19 de março de 2009

Solidão de Uma Mulher Casada. (reclamação e preservativos)

Há coisas surpreendentes! Não que nos surpreendam pela sua espontaneidade, porque já esperamos que aconteça, mas por acabar mesmo por acontecer!... O facto de acontecer o que até achamos inevitável, causa em nós um sentimento de estupefacção! -E não é que aconteceu mesmo!!!... - É, acaba sempre por acontecer. Mesmo que não aconteça de uma forma, há sempre outra forma de emoldurar o quadro surpreendente, de surpreender os incautos que ainda se penitenciam perante o pecado que julgam ter cometido. Há casos perdidos, nos quais os abandonados enterraram bem fundo o buraco que lhes ficou apenas visível pelo anel com que a luz os olha bem em cima dos olhos que fixam o solo escavado. Esquecemos e sentamo-nos sobre o monstruoso desalento com todo o peso morto do mundo que não é mais do que uma pá que leva à tentação da fuga! O peso morto não reage na melhor direcção e continua destruindo pelo caminho mais longo. O caminho mais curto é demasiado penalizante para o crente que reza e procura conforto para lá da alma terrestre que não ocupa mais que um pequeno círculo fechado!
No entanto, há sempre um “no entanto”, assemelhando-se muito a um qualquer livro de reclamações! Os livros de reclamações não nos surpreendem, mesmo quando nos surpreendem. O nosso esforço para nos surpreendermos, como se a “bofetada” fosse uma injecção de adrenalina que reactivasse aquele frenesim de herói de outros tempos, é admirável!... Os livros de reclamações são admiráveis!
“Smile” já não denuncia o mesmo entusiasmo em “comer” a quarentona. Começa a despir a “necessitada” dos seus calores oferecidos e veste-a com pequenas rugas, marcas, idade e outras características de efeitos colaterais provocados pelos anos que passam nas periferias da cidade. Já eram demasiados defeitos auto-colados na esperança da mulher vir a ser feliz nos braços do inexperiente “Smile”. O mais certo é seres violado pela “velha”, brincava eu com ele, obrigando-o a encher o peito com uma firmeza decidida.
-Não sei onde arranjar preservativos.
-Compras em qualquer lado.
Mas “Smile”não queria gastar dinheiro, o que levou a concluir que o interesse em comer a quarentona não era muito. Talvez por medo, vergonha; não estava à vontade com a ideia de uma mulher madura ter acedido a uma brincadeira interpretada e aceite como assédio. Começas com umas bocas, mesmo que brejeiras, e acaba-se por ficar entalado no acolhimento da provocação!
“Smile”, quase me surpreendia! Mas seria impossível convence-lo da diferença entre pagar a uma prostituta para dar umas quecas e comprar uma caixinha de preservativos que poderiam evitar uma “tragédia” sem nome. Comprar preservativos estava fora de questão; se alguém lhos desse, estava tudo bem. Correspondia ao não pagamento por uma trepadela. As prostitutas eram diferentes, ganhavam a vida vendendo carne batida sendo trespassada vezes sem conta por notas de 20 ou 50 euros! Smile não dava um tostão para foder nenhuma mulher; “prazer pelo prazer”, dizia ele. Talvez até fosse virgem e um dia aquelas ideias passavam-lhe, mas por enquanto…
Não haveria reclamações, acontecesse o que acontecesse.
Já não faltam muitos dias para o encontro… claro que estou curioso!...


---continua---

sexta-feira, 6 de março de 2009

Solidão de uma Mulher Casada

Mais um fim de tarde, mais uma cerveja ou uma 37 de miserável vinho, mas… que se lixe, quanto maior é o prazer em vida mais nos apegamos a ela e acabamos por nos matar com medo de morrer! Estes miseráveis vinhos são uma forma de narcotizar os sentidos e a sensibilidade vai-se com a compreensão perdida desse desapegado apego.
Gosto de almoçar só. Aprendi, pela força das circunstâncias, a saborear a solidão mais do que qualquer bife ou pescadinha de rabo na boca; não é uma solidão obrigatória, é simplesmente uma solidão que gosto de saborear. O sabor?.... Não sabe à solidão dos esquecidos, dos abandonados, dos que acham que foram despejados numa qualquer sarjeta imunda onde todos os vermes são mais humanos do que nós. É um refúgio do tamanho de uma infinidade de universos prontos a fundir-se num só, onde eu sou o núcleo de sustentação que despreza o equilíbrio das coisas e dos próprios universos fundidos.
Gosto de saborear o que cozinho, porque não aprecio costeletas de porco e ovos estrelados. A vida impõe deveres consagrados na consciência de cada um a partir do momento em que toma consciência dessa consciência. Gosto de a interpretar como respeito por mim mesmo, marcando um ponto de partida para o respeito de metas sem fim. Os caminhos do respeito a percorrer são infindáveis e os “check points” fazem parte do plano.
O vinho sabe cada vez pior e não é um problema interpretativo das minhas papilas gustativas.
-Como é que está isso com a tua “amiga?”
-Sei lá!... Ela quer mesmo fazer aquilo comigo!...
-Mas… assim sem mais nem menos?!... Tens a certeza que ela quer… anda assim tão desesperada?
-Sei lá!... Ela diz que o homem não lhe diz nada!... Diz que vem do trabalho, senta-se no sofá e não faz nada.
-Não faz nada?... O que é que ele não faz?
Percebi que “Filipe” não se sentia muito à vontade quando falávamos do que começara por uma brincadeira mas que algo a fez descambar para caminhos que revelariam obstáculos sem fim.
Tudo começou com esses cursos subsidiados pelo estado. Conheceram-se lá. Não me foi difícil imaginar o “Flipe” a mandar umas bocas atrevidas às fêmeas que mal tiveram a oportunidade de voar, bateram as asas. Também era fácil adivinhar o que fervilhava no cérebro quente daquela mulher muito perto dos cinquenta: ”seja o que Deus quiser; se o mono que tenho em casa não repara em mim, há mais quem queira”. E depois ando aqui a arder, sou uma mulher com necessidades. Ainda tenho necessidades. Preciso que me apaguem este fogo, quero que olhem para mim, que me dêem uma palavra de carinho, que me façam sentir mulher!...”
-Que é que hei-de fazer?!...
“Filipe” procurava meus conselhos, mas por cada vez que eu tentava dar-lhe um que fosse, ficava sempre a meio do caminho, porque os obstáculos onde ele tropeçava eram os mesmos que esvaziavam qualquer esperteza de minha psicologia aplicada. Não ensinei nada que ele já não tivesse descoberto e tive a certeza imediata que, por mais conhecimentos adquiridos sobre o comportamento humano, “Filipe” iria compreender as explicações que a vida dá, sentiria na pele as lições gratuitas de vidas que, mais tarde ou mais cedo, acabam por cobrar.


continua…

quinta-feira, 5 de março de 2009

A Primeira Prosa

…Depois do KrystalDiVerso, não poderia deixar de criar o KrystalDiProsa. Prosa porque, afinal, é disso que vou tratar neste espaço. Recordarei histórias, muitas histórias de alegria, tristeza e apontamentos pessoais em jeito de ensaios, deambulações e derivações de temas diversos.
Não pretendo poupar-me nas palavras, mascarar o branco, confundir as cores, incutir sensações daltónicas de arco-íris subterrâneos ou magmas sobre nuvens. Não raro, as palavras menos agradáveis vão estatelar-se ruidosamente, ou indignar quem nelas decidir navegar; algumas palavras serão barcos prontos a cruzar mares de ideias enquanto outras afundarão imediatamente e aí, a história terá de emergir de outra forma, deverá reinventar-se na palavra seguinte, na frase seguinte, no sentido particular da derivação do que se pretende assimilar.
Claro que a minha opinião sobre qualquer tema será uma constante, não admirando que a escrita se torne um pouco mais complexa, o que à primeira vista possa provocar uma certa ambiguidade interpretativa, no entanto, talvez seja mesmo esse o objectivo mais consciente dos meus intentos!... Talvez para impressionar-me a mim próprio, com a dificuldade que possa vir a ter em dissertar sobre qualquer coisa que venha ao caso. A ver vamos!


Escolham entre… Beijos e Abraços