sexta-feira, 6 de março de 2009

Solidão de uma Mulher Casada

Mais um fim de tarde, mais uma cerveja ou uma 37 de miserável vinho, mas… que se lixe, quanto maior é o prazer em vida mais nos apegamos a ela e acabamos por nos matar com medo de morrer! Estes miseráveis vinhos são uma forma de narcotizar os sentidos e a sensibilidade vai-se com a compreensão perdida desse desapegado apego.
Gosto de almoçar só. Aprendi, pela força das circunstâncias, a saborear a solidão mais do que qualquer bife ou pescadinha de rabo na boca; não é uma solidão obrigatória, é simplesmente uma solidão que gosto de saborear. O sabor?.... Não sabe à solidão dos esquecidos, dos abandonados, dos que acham que foram despejados numa qualquer sarjeta imunda onde todos os vermes são mais humanos do que nós. É um refúgio do tamanho de uma infinidade de universos prontos a fundir-se num só, onde eu sou o núcleo de sustentação que despreza o equilíbrio das coisas e dos próprios universos fundidos.
Gosto de saborear o que cozinho, porque não aprecio costeletas de porco e ovos estrelados. A vida impõe deveres consagrados na consciência de cada um a partir do momento em que toma consciência dessa consciência. Gosto de a interpretar como respeito por mim mesmo, marcando um ponto de partida para o respeito de metas sem fim. Os caminhos do respeito a percorrer são infindáveis e os “check points” fazem parte do plano.
O vinho sabe cada vez pior e não é um problema interpretativo das minhas papilas gustativas.
-Como é que está isso com a tua “amiga?”
-Sei lá!... Ela quer mesmo fazer aquilo comigo!...
-Mas… assim sem mais nem menos?!... Tens a certeza que ela quer… anda assim tão desesperada?
-Sei lá!... Ela diz que o homem não lhe diz nada!... Diz que vem do trabalho, senta-se no sofá e não faz nada.
-Não faz nada?... O que é que ele não faz?
Percebi que “Filipe” não se sentia muito à vontade quando falávamos do que começara por uma brincadeira mas que algo a fez descambar para caminhos que revelariam obstáculos sem fim.
Tudo começou com esses cursos subsidiados pelo estado. Conheceram-se lá. Não me foi difícil imaginar o “Flipe” a mandar umas bocas atrevidas às fêmeas que mal tiveram a oportunidade de voar, bateram as asas. Também era fácil adivinhar o que fervilhava no cérebro quente daquela mulher muito perto dos cinquenta: ”seja o que Deus quiser; se o mono que tenho em casa não repara em mim, há mais quem queira”. E depois ando aqui a arder, sou uma mulher com necessidades. Ainda tenho necessidades. Preciso que me apaguem este fogo, quero que olhem para mim, que me dêem uma palavra de carinho, que me façam sentir mulher!...”
-Que é que hei-de fazer?!...
“Filipe” procurava meus conselhos, mas por cada vez que eu tentava dar-lhe um que fosse, ficava sempre a meio do caminho, porque os obstáculos onde ele tropeçava eram os mesmos que esvaziavam qualquer esperteza de minha psicologia aplicada. Não ensinei nada que ele já não tivesse descoberto e tive a certeza imediata que, por mais conhecimentos adquiridos sobre o comportamento humano, “Filipe” iria compreender as explicações que a vida dá, sentiria na pele as lições gratuitas de vidas que, mais tarde ou mais cedo, acabam por cobrar.


continua…

7 comentários:

  1. aguardarei o proximo capitulo de Filipe, acho que promete!


    às vezes, só mesmo a vida pra nos dar o raspanete!


    abraço fraterno!

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  2. Gostei bastante do princípio desta história pois há muito que ouço dizer que aquele que não é capaz de estar só consigo próprio normalmente não é boa companhia para os outros. Ao longo da vida tenho vindo a constatar a veracidade deste conceito...

    Beijos e abraços!

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  3. ^^
    a parábola da gazela e do leão
    todos os dias na floresta...

    quando nos permitimos a atravessar o paraíso,
    e deixar o olhar, na visão perdida
    e fazer do sentido, um sentido único...

    é magiA!


    abraço!

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  4. ^^
    nossas lembranças nos permitem a sufocar a solidão
    e nos sustentam...
    na magiA!!


    abraço.

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  5. Agradeço sua gentileza.

    A solidão só existe
    quando alguém está o dia só e à noite não espera por ninguém.
    Há um silêncio absoluto! Ninguém vem! Não há
    ninguém!

    A esse estar no mundo, isolado e só, se chama
    "Solidão".
    E apenas esse estado de alma, é a solidão.

    Para os outros casos, tem de encontrar outra palavras, mas não Solidão!

    Com ternura,

    Maria Luísa

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  6. A ARTE DE SABER ESTAR SÓ...NÃO É PARA TODOS...É PARA ALGUNS...MAS REALMENTE ESTAR CASADA COM UM ESTAFERMO...MAIS VALE NÃO ESTAR...ÀS VEZES AS PESSOAS QUEIXAM-SE MAS ACOMODAM-SE E DÁ JEITO A AMBAS AS PARTES,HÁ INTERESSES EGOÍSTAS ,O PROBLEMA AGRAVA-SE QUANDO EXISTEM FILHOS PELO MEIO...

    GOSTEI

    NÃO GOSTO DE ESCOLHER ENTRE BEIJOS E ABRAÇOS...ISSO QUER DIZER QUE TANTO FAZ?

    SAUDAÇÕES

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